- Como obséquio de minha escravidão por amor -

10 de junho de 2015

Entrada da Virgem no Templo

O seu candor



     Conta-me, Virgem, eu te rogo,
uma partícula insignificante ao menos
     do que fazes no Templo.
Si alguém por ventura decantar quisesse
     tuas virtudes todas,
ou somente passá-las pela fantasia,
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havia de enlouquecer, por certo, sem palavras:
mas depressa contaria as areias dos mares,
as ervas dos campos, as gotas da chuva,
as estrelas do firmamento, os ramos da floresta,
     do que tuas heroicas virtudes.
     Ó templo feliz,
mais formoso do que o Templo que te abriga!
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de teu peito em chamas se evola um perfume perene.
Se não sei cantar teus primeiros anos,
     dá-me a graça, ao menos,
     de senti-los, de amá-los!
Esse amor que pintará muitas vezes
     teu encantador aspeto
e me fará viver a teu lado, de contínuo.

4 de junho de 2015

Entrada da Virgem no Templo

A sua corte



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Saí, filhas de Israel, oriundas de ilustre sangue,
criadas sob as muralhas de Davi!
Deixai o claustro escondido do Santuário
e correi para o átrio da porta dourada:
contemplai com olhar atento a vossa rainha:
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Um rubor celestial eis que lhe adorna
     as candorosas faces.
O disco rutilante do sol, o rosto luminosos da lua
contemplam extasiados sua divina beleza.
A essa Virgem feliz saúdam os astros da manhã:
nela se regozijam as maravilhas de Deus.
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Ela será o terso espelho de perpétua castidade,
que agora guardais a Deus por alguns anos.
Concentrai a atenção neste modelo só,
     nele só fixai o olhar:
ele reja vossas mãos, ele guie vossos pés.
Esta é a mulher forte, aquela pérola
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que é preciso buscar aos confins do universo.
Deus onipotente, com ela deparando
     depois de muitos séculos,
há de uni-la a si pelos laços do sangue e do amor.
Pois ela, em castidade imaculada,
será a formosa esposa do eteno Pai
     e a intacta mãe do Filho.
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Nas forças dela seu Esposo confia:
     os arraiais inimigos
hão de fugir em debandada a sua vista.
Quando vitoriosa tiver prostrado o inferno,
     vitorioso tantos séculos,
levará em triunfo os despojos para os céus.
Nenhum dardo inimigo virá ferir-lhe o peito:
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     seu caminho será
a trajetória brilhante das virtudes.

2 de junho de 2015

Entrada da Virgem no Templo

A pequena rainha



Sozinha, sobe pois, ó pequenina Virgem,
     os quinze degraus do Templo,
já não precisas do paterno arrimo.
     Tuas perninhas resistentes
vencem já estas colunas de mármore:
sobre elas assentará a construção do grande Templo!
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Que imensa glória irradia de teus passos,
ó filha de reis; quão diversos foram os de Eva!
Esta, passeando pelo paraíso o olhar irrefletido,
atrevida, meteu os pés pelo caminho fatal,
e colheu da árvore proibida o fruto da morte,
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que abateu sem piedade a raça humana.
Tu, porém, que hás de sorver nos modestos olhos
     toda a luz divina,
buscas humilde o Templo, por senda venturosa.
Árvore ubertosa, tu nos darás o fruto vivificante,
donde para o mundo há de jorrar
a salvação e a verdadeira vida.